
O governador declarou que a parceria com o “gigante chinês” teria sido formalizada em agosto de 2019, antes do mundo descobrir a pandemia
O Instituto Nacional de Advocacia (Inad) protocolou na Procuradoria da República, representação contra o governador de São Paulo, João Dória, a fim de que se investigue eventuais irregularidades na formalização do acordo de colaboração do Estado de São Paulo com a empresa chinesa Sinovac Biothec. Na última quinta-feira (11), o governador declarou que a parceria com o “gigante chinês” teria sido formalizada em agosto de 2019, poucos meses antes do surgimento da pandemia.
De acordo com informações do Jornal Cidade Online, o Inad pede explicações ao governador João Dória de como ele assinou o tal acordo antes do surgimento da pandemia. Que tipo de informação privilegiada o governador detinha e, pelo visto, omitiu da população? Além disso, vale lembrar que mesmo com essa eventual “informação privilegiada”, possivelmente omitida criminosamente, Dória permitiu e incentivou a realização do Carnaval em São Paulo.
O Inad pede ainda, a instauração de inquérito contra João Dória para apuração dos fatos e possível prática de crimes contra a humanidade e contra a segurança nacional, além de crime contra o sistema financeiro e o mercado de capitais.
QUANDO SE FIRMOU A PARCERIA
O Instituto Butantan, vinculado ao Governo do Estado de São Paulo, divulgou press-release para imprensa no dia 4 de setembro, informando que “em passagem por Wuhan, na província de Hubei, na China, o diretor do instituto, Dimas Tadeu Covas, acompanhado da equipe de Novos Negócios da instituição, assinou uma carta de intenções tripartite com a empresa chinesa BravoVax e a norte-americana Exxell BIO para o desenvolvimento de uma vacina pentavalente contra rotavírus. O documento define as bases de um desenvolvimento conjunto do imunizante com dados gerados na fase I, já concluída pelo Butantan, a partir da vacina original licenciada pela agência federal de saúde americana NIH (National Institutes of Health).
A matéria informava que o acordo faz parte da missão especial ao país asiático promovida pelo Governo do Estado de São Paulo, por meio da Secretaria de Desenvolvimento Econômico e da Agência Paulista de Promoção de Investimentos e Competitividade (InvestSP), que também levou, em agosto de 2019, representantes de diversas empresas sediadas no estado com o objetivo de estabelecer parcerias com companhias locais.
PRIMEIRO CONTÁGIO
Cerca de dois meses depois da divulgação da parceria pela imprensa brasileira, acontecia em Wuhan a primeira infecção conhecida da Covid-19. A contaminação causada pelo novo coronavírus SRA-CoV-2, ocorreu no dia 17 de novembro do 2019, de acordo com uma investigação do jornal “South China Morning Post”, de Hong Kong, com base em dados do governo. O jornal afirma que uma pessoa de 55 anos da província de Hubei, foco do surto, teria sido a primeira a contrair a covid-19. A informação foi publicada no site UOL Notícias, no dia 13 de março último.
NOVA PARCERIA
Meses depois, Dória já ciente da confirmação da pandemia pela Organização Mundial da Saúde (OMS) promovia o Carnaval de São Paulo. Estranhamente, na semana última quinta-feira, o governador João Doria e o diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, anunciaram uma nova parceria inédita entre o Instituto Butantan e a farmacêutica chinesa Sinovac para produção e testes em estágio avançado de uma vacina contra o coronavírus. O acordo prevê testagem em 9 mil voluntários no Brasil e fornecimento de doses até junho de 2021, caso a imunização se prove eficaz e segura.
“A vacina do Butantan é das mais avançadas. Estudos indicam que ela estará disponível no primeiro semestre de 2021. Com ela, poderemos imunizar milhões de brasileiros”, reforçou Doria.
“Poucos meses após a confirmação do primeiro caso de Covid-19 no país, São Paulo vai liderar um ensaio clínico fase três e se prepara para iniciar a produção nacional de uma vacina promissora, que poderá ser disponibilizada em tempo recorde na rede pública de saúde”, afirmou o diretor do Instituto Butantan, Dimas Tadeu Covas.
Com a formalização do acordo, o Butantan submeterá a proposta de ensaio clínico à aprovação dos comitês de ética e pesquisa. Após o aval, a testagem poderá ser iniciada em julho.
O ensaio clínico vai verificar eficácia, segurança e o potencial do medicamento para produção de respostas imunes ao novo coronavírus em 9 mil voluntários. O Butantan vai preparar centros de pesquisa para condução dos estudos em todo o Brasil.
Se a vacina for aprovada, a Sinovac e o Butantan vão firmar acordo de transferência de tecnologia para produção em escala industrial tanto na China como no Brasil para fornecimento gratuito ao SUS (Sistema Único de Saúde). Os passos seguintes são o registro do produto pela Anvisa e fornecimento da vacina em todo o Brasil.